terça-feira, setembro 20, 2005
Como ganhar 10 paus
Estou sendo salvo pela tripulação de uma balsa que chegava a Santos. Estava de bermuda, acho que laranja, e segurando uma prancha de Bodyboard. Eu estava no meio do mar, perdido e em pânico.
Depois de ter sido salvo, eu descobri que para pegar a balsa para voltar para a Praia Grande, eu precisaria desembolsar dez reais, que, como estava de bermuda, não tinha nos bolsos. Comecei a pedir dinheiro na fila. Passei por umas dez pessoas até que um moço me sugeriu que fosse até o saloon do outro lado da rua tentar um trampo para descolar os dez mangos.
Curiosamente, passei a ver meus atos fora do meu corpo.
Entrei no saloon com outra roupa. Agora estava vestido de caipira norte-americano, com direito a suspensórios e a um chapéu preto grande, parecido com de bruxas, todo amassado e com a sua ponta fina dobrada para o lado, como se estivesse quebrado.
Minha vista era oposta à minha posição. Eu me via entrando por uma porta estreita, logo após ter subido as escadas, pois o saloon ficava no segundo andar de um prédio. Tudo no saloon era feito de uma madeira clara, cerejeira ou algo assim. Havia muito barulho de pessoas conversando. Na minha esquerda, havia mesas redondas com pessoas sentadas ao redor e logo atrás um tablado não muito alto, mas que ocupava uma boa área do local. Na minha esquerda tinha o balcão do bar. Lá tinha um brilho dos vidros das garrafas, tudo num tom marrom claro e dourado. Porém não chegava a ser luxuoso. Era bem rústico na verdade.
Então houve um close em mim e no barman. Comecei a negociar com o barbudo:
- Preciso de dez reais para tomar a balsa de volta. Se eu contar piadas por uma hora para os seus fregueses, você me dá os dez reais?
- Uma hora é pouco. – Respondeu seco.
- E que tal duas?
- Duas está bem. Só que eu preciso vender mais cerveja.
Então subi no tablado e desatei a falar entre quarenta e cinco minutos e cinqüenta minutos. Parei de contar piadas e disse para todos:
- Vou fazer uma pequena pausa para vocês irem comprar mais cerveja, se não, não vou embora.
Então me vejo novamente em primeira pessoa. Durante o intervalo, escuto um estrondo e olho pela janela.
Um posto de gasolina tem sempre um teto e um forro. Pois bem, quando olho pela janela, é noite, um posto de gasolina do outro lado da rua teve seu teto desabado. Vejo muita faísca e aquele ruído típico que todos já ouviram nos filmes. Então, sobem alguns homens na tentativa de conter as faíscas. De repente, vejo um balançando uma cabeleira, no estilo de roqueiros, seguindo um ritmo. Logo depois, com o som das faíscas fazendo um ritmo parecido com samba, vejo pessoas sambando no forro do prédio, seguindo o chiado.
Tudo isso passou muito rápido, até que, de repente cai todo o forro. Mas aquelas pessoas já não mais estavam lá. O que eu vejo são várias pessoas mortas, meio que amontoadas, e muitos detritos do que uma vez foi um posto.
Vejo então uma roda de pessoas, com mulheres chorando, entorno de um bombeiro. Este bombeiro estava meio sujo, e estava segurando uma serra grande, típica para cortar árvores. Então o vejo serrando a perna de uma garota, que não devia ter mais dos seus vinte anos, sujando-se com todo o sangue que saía dela.
Assim que terminou o corte, a rodinha toda foi embora, deixando para trás todos aqueles que já tinham morrido. Depois, apareceram duas crianças, um menino com short vermelho e camisa verde, e uma menina num vestidinho rosa. Eles não tinham mais que cinco anos. O menino pegou um pedaço de galho e cutucava as pessoas mortas enquanto a menina pedia para que o pai levanta-se.
E assim terminou o meu sonho.